Constituído por um Museu e um Teatro equipados para
receber eventos artísticos de grande porte, o conjunto arquitetônico projetado
para o Cais das Artes, em Vitória, tem como característica central a
valorização do entorno paisagístico e histórico da cidade.
Localizado na Enseada do Suá, numa extensa
esplanada aterrada em frente ao canal que conforma a ilha de Vitória, o projeto
faz um elogio desse território construído pelo monumental confronto entre
natureza e construção, numa cidade cotidianamente animada pela presença do
porto, no constante e enérgico trabalho das docas. Tal elogio, nesse caso,
significa a decisão de configurar a esplanada em questão como uma praça aberta
ao usufruto da cidade: um passeio público junto ao mar. E ainda, de forma
complementar, implica a decisão de suspender os edifícios do solo de modo a
permitir visuais livres e desimpedidas desde a praça para a paisagem
circundante.
Isto é, tanto para o dinâmico espetáculo dos
trabalhos no mar, ligados ao porto, quanto para o patrimônio natural e
arquitetônico da cidade, no qual se destacam as montanhas de Vila Velha e o
Convento da Penha, localizado do outro lado do canal, em frente ao conjunto
projetado. Trata-se, portanto, de uma ação arquitetônica orientada
urbanisticamente no sentido de adequar história e geografia a uma desejada
visão do presente, indicando, ao mesmo tempo, uma concepção museológica que
procure associar arte e ciência numa perspectiva integrada.
Dotada de equipamentos como cafés, livrarias e
espaços para espetáculos cênicos e exposições ao ar livre, a nova praça será um
lugar de atração na vida cultural da cidade. Lugar que, por suas
características espaciais intrínsecas, permitirá ao público descortinar sua
paisagem monumental de forma privilegiada. Efeito que será amplificado, ainda,
no percurso de visitação do Museu, cuja circulação vertical em rampas e
patamares cristalinos criará varandas para a contemplação do entorno natural e
construído em cotas inesperadas.
Por outro lado, o conjunto constituirá — ele também
—, uma nova referência visual na paisagem da Baía de Vitória, que poderá ser
admirada desde inúmeros pontos de vista ou mirantes mais antigos, como o
próprio Convento no alto do Morro da Penha, em Vila Velha. Com
um Museu climatizado e contendo uma área expositiva de 3.000 metros quadrados,
mais um Teatro com capacidade para 1300 espectadores, preparado para abrigar
usos múltiplos, o conjunto do Cais das Artes procura equipar a cidade de
Vitória para receber espetáculos artísticos importantes, qualificando-a como
uma sede cultural com presença nacional.
Isto é, intenta inserir a cidade na rota de eventos
itinerantes (shows musicais, espetáculos teatrais, de dança e exposições de
arte) que circulam pelas grandes capitais brasileiras, sediar grandes Eventos,
Festivais, ou Companhias Estáveis de Música ou Dança. Espacialmente, o conjunto
arquitetônico em questão integra uma área de expansão urbana que tem recebido
investimentos significativos, tanto públicos quanto privados, passando a
abrigar equipamentos novos de grande porte, tais como edifícios
administrativos, tribunais, shopping centers e condomínios residenciais.
Trata-se, como está claro, de uma área estratégica
para o desenvolvimento econômico e cultural da cidade. É também por essa razão
que uma intervenção exemplar se faz tão necessária, considerando-se os riscos
que tais processos costumam trazer para o patrimônio natural e edificado de uma
cidade em
desenvolvimento. Consciente disso, o projeto procura
disciplinar a ocupação urbana em frente ao mar lançando luz sobre o seu próprio
processo de constituição material: a técnica de construção do aterro, o
enrocamento e as muralhas de cais, a existência do canal, a presença do porto
etc.
Ao mesmo tempo, do ponto de vista volumétrico, o
partido adotado busca uma leveza capaz não apenas de preservar a integridade
visual da paisagem circundante, mas, sobretudo, de valorizá-la de modo
eloqüente. Mais do que construir edifícios auto-referentes, o projeto realiza
um território novo: a própria Baía de Vitória em sua monumentalidade
intrínseca, como um engenho simultaneamente natural e artificial, histórico e
contemporâneo.
O Edifício do Museu é configurado por duas grandes
vigas em concreto armado protendido paralelas elevadas do solo 3m, com apenas
três apoios cada e a 20m uma da outra. Entre elas sucedem-se salões com a
largura constante de 20 m
e diversos comprimentos distribuídos em três níveis principais. Abertos, esses
salões comunicam-se visualmente entre si e com a Praça, através de caixilhos
inclinados, que permitem a entrada de luz indireta refletida do piso e nunca
insolação direta. Esses salões serão primordialmente destinados a exposições. O
restante do Programa concentra-se em uma torre anexa, que vai ao chão, com 22m
x 22m em planta e 23m de altura, conectada ao corpo principal através de
pequenas pontes.
O Teatro conta com duas galerias laterais com dez
metros de largura, por toda a extensão do edifício com 69m de comprimento, que
abrigam a totalidade das circulações tanto de público como de artistas e
técnicos, camarins, salas de técnicos, equipamentos. Entre as duas galerias
estão a Platéia e Balcões e o Palco e Coxias. Assim como o Museu, o Teatro é
também elevado do piso: apenas as áreas técnicas sob o palco e o restaurante
tocam o solo. Este se abre a um passeio junto ao mar, coberto pelo próprio
edifício do teatro, cujos pilares extremos estão dentro d’água, a cinco metros
da frente regularizada do território. Esta opção técnica se justifica pela
similaridade das características do solo no aterro hidráulico recente e do
leito do canal.
Location: Vitória,
ES, Brazil
Architect:
Paulo Mendes da Rocha
Collaborators:
Metro Arquitetos Associados, Martin Corullon, Anna
Ferrari, Gustavo Cedroni, Flavio Rogozinski, Marcia Terazaki, Miki Itabashi
(architects); Paloma Delgado, Paula Mendonça (trainees)
Square total area: 26,500 sqm
Museum total area: 8,500
sqm
Theater total area: 14,000 sqm
Year: 2008
Client: Government of the State of Espírito Santo and arcelormittal-cst
Photographs: Courtesy of Paulo Mendes da Rocha
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